HIPÁTIA
Esta semana ao ler um artigo sobre os recentes equívocos cometidos
por nossos hermanos em sua economia, me deparei com uma frase que não saía da minha
cabeça – um ato grave e errado pode
desencadear uma reação maior e mais grave - . Isso me fez pensar que de
fato as leis da física não se aplicavam aos comportamentos humanos – para toda
ação, existe uma reação igual e contrária -. Pois bem... Eis que arbitrariamente
escolhi o filme Alexandria (Ágora. Espanha, 2009) para assistir no fim de
semana.
Confesso que o filme não chega a ser um primor da sétima
arte, não chega nem perto de Mar adentro
– o melhor filme de Alejandro Amenábar em
minha opinião -, mas a obra me causou tamanho regozijo ao abordar uma filósofa
que até então era desconhecida por mim.
Hipátia foi uma
filósofa neoplatônica. Viveu em entre 355 e 415 d.C. Sua história é tão fascinante
quanto o contexto histórico em que se encontrava. Assassinada em decorrência de
disputas políticas e de poder em Alexandria durante a ascensão do cristianismo
no império romano, Hipátia era um raio de luz apagado pela intolerância
religiosa que teima em deixar de existir ainda nas sociedades contemporâneas.
Pagãos, cristãos e
judeus, vivendo num caldeirão de prosperidade, tornou Alexandria um dos palcos
da ignorância cega exercida pelo homem. Os pagãos, agora em minoria depois da
conversão do imperador Constantino ao cristianismo, não conseguem sobrepujar - ainda que os filósofos estivessem neste
grupo – os grandes erros cometidos por uns poucos que enlouquecem ao
beberem da fonte do poder.
Num segundo momento,
judeus mantém relativa harmonia ao conviverem com cristãos, afinal, são
igualmente monoteístas, mas quem mandou não reconhecerem a divindade de um certo
cara barbudo? Pronto! O circo tá armado. Incomodados com a condição judia,
cristãos constantemente profanam os rituais e tradições judaicas. Cansados de
tanto bullying teológico, partem para o ataque, mas como sentiram e absorveram
tanto tempo na pele o desrespeito, a barrinha do estresse parece ter ficado no
vermelho, desencadeando um ataque mortal aos seus algozes. Uma resposta de
defesa, mas ainda assim passional e violenta. Expulsos dos muros da
civilização, os Judeus nunca mais experimentariam o sossego.
Como aceitar o
diferente não era o estilo de vida mais apropriado na Alexandria de outrora,
Hipátia era uma vírgula que teimava em ser interrogação nessa sopa religiosa.
Habilidosa na retórica, e sedutoramente inteligente, a amazonas dos números era
uma ameaça ao poder religioso devido a sua influencia exercida ao prefeito de
Alexandria.
Torturada e morta, em
nome da insanidade de alguns, me pergunto, quantas mentes brilhantes se calaram
neste hiato de existência humana? Quanto não estaríamos evoluídos hoje se lá
atrás tivéssemos nos focado numa frase que no fim das contas é o que realmente
importa – amai-vos uns aos outros.
É... Bem que
poderíamos ter outras Hipátias multiplicadas aos montes nestes períodos
tenebrosos da nossa história.
Ao ponto:
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